terça-feira, 4 de agosto de 2009

Feliz Ano Velho!


- A gente está te esperando fazem 40 minutos, onde você está Raphael? – me irritei, era 5 de agosto de 2006, nesse exato dia faziam 6 anos da amizade mais linda de todo o mundo, e é claro que ele estava atrasado.

- Calma, eu tive que comprar umas coisas e acabei me atrasando, relaxa Prih.

- Lá vem você com as suas desculpas, se você não chegar aqui em 5 minutos eu juro que volto pra casa e só saio de lá com um Porsche – eu estava de costas pra catraca do metrô Consolação, e não vi ele chegar.

- Acho que vou ter que voltar e ir te buscar em casa com um Porsche né? – ele disse baixinho no meu ouvido, foi incrível ouvir a voz dele por dois lugares: a que saia metalizada do meu celular e a aveludada com a respiração dele na minha orelha. Ele era magnífico, em todos em sentido.

(...)

Duas horas dentro de um bar na augusta, muita cerveja, uma roda gigante de amigos, muita risada. Ele abriu a mochila e tirou um embrulho de jornal de dentro, com um cartãozinho com a caligrafia rápida e tremula, imagino que ele tenha escrito aquilo dentro do metrô. Colocou no meu colo e não falou nada, só ficou olhando.

Abri aquele sorriso e li no cartãozinho: “6 anos é pra poucos, e nós somos muito pra 6 anos. Rapha.” Eu não queria abrir o embrulho, eu sabia que era um livro e eu sabia que eu ia me derramar em lagrimas e ele odiava meu sentimentalismo.

- Obrigado – eu disse baixinho, com medo de ele ver que eu não iria abrir aquilo naquele momento.

- Abre logo criatura – ele disse rindo, como eu adorava aquele sorriso.

Abri. E por um momento eu não entendi o presente. Um livro, isso eu já sabia, um livro com o titulo “Feliz Ano Velho”. Nunca ouvira falar naquele livro, muito menos no autor Marcelo Rubens Praga.

- O livro fala de basicamente da força das amizades – ele explicou vendo a minha cara de duvida. – Esse Marcelo ficou tretaplégico, e conseguiu se recuperar 50% por causa dos amigos que ele tinha envolta.

Agora tudo fazia sentido. Ele arrancou o livro da minha mão.

- Nunca li, vou pegar emprestado.

- Mas eu nem li ainda porra.

- Ah, você vai ter a vida inteira para lê-lo, deixa eu ler antes. – e fez aquela cara de pidão, a cara que ele sempre fazia de propósito pra me fazer ceder. Deixei ele ler primeiro.

E o mais ridículo dessa historia é que eu nunca tive esse livro de volta em minhas mãos, lembro que tinha uma dedicatória linda, mas não consigo me lembrar de todas as palavras então deixa pra lá. Depois de 7 meses desse acontecimento meu querido amigo Rapha cometeu suicídio, e guardou o livro consigo. E depois de 2 anos enfim eu o li.

Eu sinto sua falta Rapha, e realmente, a amizade supera tudo, até o suicídio. Eu te amo, eu sei que esse amor é de verdade, e é eterno.

“Você é ‘espacial’ garoto... ‘espacial’!”

3 comentários:

  1. Lindo, estou sem palavras para expressar o que senti ao ler esse texto, me comoveu. Parabens Prih. Espero que continue sempre assim. E tenha certeza que seu amigo sempre estará ao seu lado, hoje, amanha e sempre!

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  2. eu acredito que a pessoa não morre enquanto permanece viva dentro de nós. o que se vai é a matéria, e apenas isso.
    ele vai tá sempre te guardando, esteja onde estiver.
    belo texto ;)

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